A par de um vasto conjunto de edifícios religiosos, a Vila de Santar preserva, ainda hoje um núcleo muito interessante de casas de várias tipologias. A casa rural popular, a burguesa letrada e abastada e, os grandes solares, cuja existência se mistura, por vezes, com a História de Portugal.
Alguns, como o mais antigo, encontram-se em ruínas ou em avançado estado de decadência, mas outros preservam grandeza adquirida durante séculos. Apesar dos estilos, relacionado com as épocas em que foram construídos, nem sempre serem idênticos, há, contudo, um elemento comum: o granito. Usado em proporções diferentes tanto pode cobrir uma fachada como ser utilizado em muros, em varandas ou simplesmente a emoldurar portas e janelas. Das mais modestas às mais imponentes, muitas das casas da vila de Santar se irmanam na utilização da pedra desta região.
Residência senhorial associada a uma propriedade agrícola e vinícola, a Casa de Santar e Magalhães é um bom exemplar de arquitetura civil maneirista onde pontuam também características barrocas e neoclássicas. Localizada no coração da vila de Santar tornou-se, após a destruição do Paço dos Cunhas, no solar de maior presença e aquele que determinaria a orientação do principal eixo viário da vila.
Apesar de ter sofrido, ao logo dos séculos, inúmeros acrescentos, não é fácil hoje distinguir as várias fases construtivas por ter havido sempre a preocupação em harmonizar os novos volumes com os anteriormente edificados.
O núcleo mais antigo terá sido construído, na viragem do século XVI para o XVII, por vontade de João Gonçalves do Amaral. Mais tarde, e após a instituição do vínculo de Santar, em 1670, o seu filho Francisco Pais do Amaral e sua mulher Francisca Pais do Amaral mandaram levantar uma capela dedicada a S. Francisco d´Assis. O templo só seria terminado pelo filho de ambos, António Pais do Amaral, em 1678, que aqui se fará sepultar. Será ainda em vida deste último que a casa volta a sofrer uma ampliação com a construção da chamada Cozinha Velha, em 1690.
De planta retangular, este magnífico espaço tem a graça de preservar no seu interior uma fonte de granito alpendrada com cobertura em cúpula esférica, ornamentada nos ângulos por pináculos e cujo entablamento é suportado por quatro colunas toscanas. Por esta altura foi também levantada no exterior da cozinha uma fonte decorada por azulejos figurativos assinados por Gabriel Del Barco e datados de 1700.
No interior da cozinha encontra-se, ainda, uma chaminé em granito, de grandes proporções e cobertura piramidal. Os pilares que a suportam bem como a respetiva cornija são ornamentados com motivos vegetalistas.
Posteriormente, já no século XVIII é acrescentado à casa um novo corpo longitudinal. Por volta de 1727, Francisco Lucas de Melo, filho do primeiro Francisco Lucas de Melo, dá início à construção das adegas, do Pátio Central e do imponente chafariz conhecido por Fonte dos Cavalos, terminada em 1790. Esta ostenta, ao centro, a pedra de armas da casa sob a qual brota água de uma máscara grotesca para um bebedouro de granito. Posteriormente a fonte viria a ser decorada com painéis de azulejos assinados por Pereira Cão.
Já no século XIX é construída no alçado virado ao jardim uma varanda corrida suportada por colunas toscanas e decorada com figuras de convite, em azulejo representando as Quatro Estações. Do início do século XX é o acrescento de uma galeria fechada também virada ao jardim e os azulejos assinados por Pereira Cão que revestem as paredes do salão.
Quanto à fachada principal, virada à rua é de uma grande sobriedade. A linearidade parietal é apenas quebrada pela existência de dois níveis de janelas de molduras de granito simples e pilastras embutidas, a que correspondem ao nível do telhado pináculos bolbosos. Ao centro da fachada, abre-se o portal encimado por uma porta de sacada com varanda de balaústres, sendo o conjunto coroado por um frontão triangular onde se inscreve a pedra de armas da família.
A separação entre a casa e a rua é feita por um conjunto de peças de granito bojudas ligadas entre si por uma grossa corrente de ferro.
A Casa de Santar e Magalhães encontra-se na mesma família desde o século XVI e com o casamento de Maria Teresa Lancastre de Mello com José Luís d´Andrade de Vasconcellos e Souza no século XX, juntam-se a representatividade das ilustres casas, com honras de parente da Casa Real, Óbidos, Sabugal, Palma, Alva e Santa Iria a esta família.
José Luís e Pedro de Vasconcellos e Souza, herdeiros deste vasto património histórico cultural, são os fundadores do projeto Santar Vila Jardim conjuntamente com a família Ibérico Nogueira e Portugal Loureiro.
Apesar de muito alterada por sucessivas reformas - sobretudo nos séculos XVII e XVIII - a Casa das Fidalgas teve uma origem medieval tendo começado por ser uma torre senhorial. A fundação do atual solar, de arquitetura barroca e neoclássica, deve-se a Domingos de Sampaio do Amaral que o terá mandado levantar para residência de sua filha, D. Joana de Sampaio a qual viria a casar com João de Almeida Castelo Branco. Seriam os detentores da capitania-mor do concelho de Senhorim e os instituidores do morgado de Santar.
Não existe muita informação sobre as campanhas de obras realizadas ao longo do tempo. Contudo, e ao que tudo indica, teria sido em meados de setecentos que as de maior vulto se teriam realizado conferindo à casa o seu aspeto atual. Aliás, e segundo alguns autores, teria sido só nessa altura que a torre medieval foi demolida. A memória dessa estrutura ficaria, no entanto, no topónimo Fonte da Torre, chafariz mandado levantar, em 1789, por Rui Lopes de Sousa Alvim Lemos, no terreiro fronteiro à sua casa.
Esta residência senhorial é constituída por quatro corpos sendo a fachada principal, orientada a noroeste, dividida em três panos de dois andares onde se rasgam vãos de molduras simples e um alpendre suportado por coluna.
Na fachada posterior, virada aos jardins, destaca-se uma varanda alpendrada assente em colunas toscanas que se liga ao jardim por uma escadaria.
No interior, os tetos podem ser em masseira ou em estuque. Entre estes últimos sobressai um, com uma decoração muito invulgar de pratos encastrados formando um círculo, no centro do qual se encontra um outro prato de maior dimensão.
Na Casa das Fidalgas existe ainda um Oratório digno de nota. Executado, em meados do século XVIII, na transição do barroco para o rococó, apresenta uma decoração a verde e ouro, rica em enrolamentos e motivos decorativos que contrastam com dois cortinados vermelhos que pendem lateralmente. Sobre o fundo pintado a imitar brocado, um Cristo setecentista. A seu lado, uma escultura medieval, de madeira policroma, datada de finais do século XIV- porventura proveniente da fundação medieval da casa - representa a Virgem com o Menino. Não fazendo parte do Oratório, mas encontrando-se na sua proximidade, uma imagem barroca de S. Pedro sentado no trono com os atributos papais.
Até 1975, a casa manter-se-ia na família de origem. Seria o seu último herdeiro, Pedro Brum da Silveira Pinto, que a doaria, juntamente com a propriedade agrícola que lhe está associada, ao representante da casa real portuguesa, D. Duarte Pio e ao seu irmão, D. Miguel de Bragança, duque de Viseu, que ainda hoje a habita.
Solar realizado em 1609 por Dom Pedro da Cunha, fidalgo da corte de D. Filipe II, filho de D. Luis da Cunha Senhor de Sabugosa, Óvoa e Barreiro.
Em 1640 os Cunhas tomaram partido de Espanha contra D. João IV sendo exilados e os seus bens confiscados. A longa fachada da sua cerca deixa antever uma leitura arquitetónica maneirista. Ao centro era rematado pela pedra de armas dos Cunhas, encimada por um meio círculo, cujo interior ostentava o brasão de Dona Elvira Coutinho de Vilhena, mulher de D. Pedro da Cunha.
Do solar totalmente destruído apenas restavam as ruínas do celeiro, cavalariças e adegas que foram restauradas pela empresa Global Wines, sendo atualmente um espaço de enoturismo, restauração e eventos.
De construção setecentista, a Casa do Soito está ligada, desde o início do século XIX, ao Paço dos Cunhas, quando as duas propriedades passaram a pertencer à mesma família, a de José Caetano dos Reis.
A Casa do Soito, que pertencia ao outro filho de Caetano dos Reis, Manuel Casimiro Coelho do Amaral Reis, cujo brasão é bem visível sobre a porta principal.
Beneficia de todo um aparato cenográfico que lhe é conferido quer pela escadaria de acesso, quer pela decoração da fachada, quer ainda pelos jardins desenvolvidos em diferentes patamares, com balaustradas, bancos de azulejos, e estátuas.
Situada no coração da vila de Santar, a Casa dos Linhares ou Casa Ibérico Nogueira é um bom exemplar de casa beirã urbana com passado agrícola. Construída em granito, tem dois pisos e sótão. Inicialmente, o piso térreo correspondia a dependências agrícolas. O primeiro piso servia de residência aos senhores da casa.
Ao que tudo indica, esta construção é de inícios do século XIX. A casa e a quinta que lhe está associada seriam adquiridas por escritura pública, em 1900, por Manuel Joaquim dos Santos, bisavô paterno dos atuais proprietários. É provável que a intenção deste fosse deixar uma casa a cada filha já que possuía outra nesta vila, na avenida Viscondessa de Taveiro (ao lado da atual receção de Santar Vila Jardim), onde residiu até ao final da sua vida.
Manuel Joaquim dos Santos foi um bem-sucedido comerciante. Do seu casamento com Ana Neves dos Santos nasceram duas filhas: Maria Celeste, a mais velha, e Sara, a mais nova. Ambas viriam a receber uma educação esmerada, possuindo, tanto uma como outra, grandes dotes para o desenho, pintura e música, tendo Maria Celeste sido mesmo uma excelente pianista.
Esta última, casaria, em 1914 com António Ibérico Nogueira recebendo, de seus pais, como presente de casamento, a Casa dos Linhares, onde o casal passou a habitar.
António Ibérico Nogueira era natural de Lisboa e militar de carreira - à época alferes de cavalaria - tendo ingressado na Academia Militar por influência de um tio António Rodrigues Nogueira, também ele engenheiro militar. Este, oriundo da Beira era um homem com alguma influência na capital tendo sido um dos principais fundadores da Empresa Hidroelétrica da Serra da Estrela e da Companhia Portuguesa dos Fornos Elétricos.
António Ibérico Nogueira e Maria Celeste tiveram dois filhos: Francisco, o mais velho, nascido em 1915 e Maria Alice, que nasceria dois anos depois.
Fiel à causa monárquica, o então capitão Ibérico Nogueira participaria nas inúmeras tentativas levadas a cabo por Paiva Couceiro para restaurar a monarquia. Em 1919, durante a última tentativa, Ibérico Nogueira, então comandante do Regimento de Cavalaria de Nelas, aderiria com os “seus” homens à chamada Monarquia do Norte, instaurada na cidade do Porto em janeiro de 1919, e que duraria apenas 25 dias.
Sufocada a revolta, seria preso e exilado, primeiro na Madeira e posteriormente em Moçambique sendo também afastado do exército. Durante o seu exílio, que durou cerca de seis anos, Maria Celeste permaneceu, com os filhos, na Casa dos Linhares.
Na sequência da revolução liderada por Gomes da Costa, que terminou com a 1ª República, a 28 de maio de 1926 seria amnistiado podendo regressar a Portugal. Não seria, porém, reintegrado no exército. No entanto, os conhecimentos de topografia que aí tinha adquirido deram-lhe uma nova profissão, a de topógrafo, fazendo levantamentos topográficos para a construção de linhas de alta tensão. É neste contexto que passa a colaborar com a companhia Hidroelétrica do Alto Alentejo, que estava a construir uma linha entre Nisa e Maceira, para alimentar uma fábrica de cimento. Na década de 1940 instala-se, com a família, em Maceira.
A Casa dos Linhares deixa então, de ter moradores permanentes passando a ser usada nos períodos de férias: Natal, Páscoa e setembro.
Maria Alice Ibérico Nogueira, filha de António e Maria Celeste, iria viver para Viseu depois de casar com António Lacerda Pinheiro, médico do Sanatório do Caramulo.
O seu filho Francisco formar-se-ia, com distinção, em medicina, em 1939. Convidado para assistente da mesma Faculdade, em Coimbra, tornar-se-ia, em 1960, Professor Catedrático. Distinguiu-se como médico e investigador tendo introduzido em Portugal técnicas inovadoras, em Obstetrícia e Ginecologia, a sua especialidade. Casaria, em 1947, com Maria Emília Osório do Amaral e Sousa Pinto da Cunha Mora, bisneta do Visconde de Almeidinha, titular da Casa de Almeidinha, situada a pouca distância de Mangualde e, logo, não muito longe de Santar.
Deste casamento nascerão sete filhos, dos quais quatro rapazes e três raparigas: António, Isabel, Francisco, Margarida, José, Maria do Rosário e João.
Por morte de Maria Celeste, em 1972, a Casa dos Linhares seria herdada pelos dois filhos. Posteriormente, Maria Alice, que não teve descendência, doaria a sua parte ao irmão.
Com uma família numerosa e uma paixão por Santar, Francisco Ibérico Nogueira introduziria vários melhoramentos na casa. Na década de 1960 constrói os muros atuais, que cercam a propriedade, procede à demolição dos currais e das cavalariças - construindo em sua substituição um grande o pátio em pedra e um telheiro - abre poços para rega e introduz diversos melhoramentos no interior da casa. Na década de 1980, depois de ter vivido cinco anos no Brasil, reformula o seu interior dotando-a de novas dependências.
Após a morte de Francisco Ibérico Nogueira, em 2009, a propriedade de raiz da Casa dos Linhares é herdada pelo seu filho João, passando o respetivo usufruto a ser partilhado com vários dos seus irmãos, como forma de todos se manterem ligados a Santar.
Ainda nesse ano, João Ibérico Nogueira, a sua mulher e os seus filhos constituem a sociedade Iberparticipa, S.A., através da qual vão aderir, desde a primeira hora, ao projeto Santar Vila Jardim.
Propriedade da família Pinto Amaral Homem, a Casa da Magnólia deve o seu nome à sua penúltima proprietária, Maria Adelaide Portugal, que assim pretendeu homenagear a duplamente centenária magnólia grandiflora existente no seu jardim.
A origem desta casa remota ao século XVII, quando Francisco Pinto veio da Azinhaga para Santar, com os seus filhos, o abade Sebastião Pinto e Pedro Coelho Rosado.
Em 1727, um dos descendentes deste último, Francisco Pinto Coelho Homem Rosado de Sampaio, Capitão-Mor do Conselho de Senhorim, casou-se com Maria Teresa de Portugal Mendonça Cabral. O apelido Portugal acabaria por ser retomado, em 1881, pelo antepenúltimo proprietário desta casa, o Capitão Veterinário José Maria de Miranda Pinto Portugal.
Como outras, em Santar, esta família poderia ser caracterizada por pertencer a uma burguesia letrada e urbana – exercendo profissões diferenciadas - mas com fortes vínculos rurais.
A propriedade a que a Casa das Magnólias pertence refletia, na conceção e na repartição dos espaços, uma tripla funcionalidade: agrícola, a mais importante, residencial e recreio.
A área agrícola incluía terrenos de cultivo, pomares e dependências agrícolas: lagares, celeiros, dornas, pipas, túneis, currais e galinheiros.
Atualmente, possui uma vinha jardim bordeada a bucho, que ocupa grande parte da antiga área agrícola.
Duas dezenas de terrenos periféricos, dispersos pelas localidades de Santar, Moreira e Casal Sancho, completam a propriedade com terras de semeadura, olival, vinha, tojais e pinhais.
A casa de dois pisos encontra-se próxima da Casa de Santar e Magalhães. Como é habitual, neste tipo de edifícios o primeiro piso está reservado à área residencial e o térreo é composto de lojas utilizadas nas atividades agrícolas.
Nos jardins da casa, e para além da imponente Magnólia, que no verão se cobre das suas belas flores brancas, inúmeras japoneiras (cameleiras) conferem-lhes uma beleza especial, quando, de inverno, se cobrem de flores.
Nos meses mais quentes, a sombra destas árvores dá uma nota de frescura que se amplifica pelo elemento água associado ao tanque de granito e ao poço, com a sua antiga nora, elementos indispensáveis numa casa de lavoura.
O roteiro normal da visita aos Jardins de Santar, depois de percorrido o jardim da Casa das Fidalgas, leva o visitante até ao Largo de São Pedro, junto do Cruzeiro ao lado da Igreja Matriz, cujo orago é São Pedro.
Neste largo, encontrará também a Casa do Passal, hoje uma residência privada, mas que, anteriormente, foi propriedade da Igreja Católica e servia de residência aos párocos que por Santar foram passando ao longo dos tempos.
A palavra “passal” deriva de “passo”, neste caso uma unidade de medida que definia uma área de cultivo agrícola destinada ao sustento e logradouro do pároco em exercício. Estas áreas constituíram um enorme privilégio para a Igreja Católica tendo este vigorado desde o Séc. IX até 1869, quando lhe foi retirado, apesar dos seus veementes protestos. Porém, no caso de Santar, só alguns anos mais tarde a Casa do Passal (residência e terrenos anexos) passou para o domínio privado, após um período de transição na posse do Estado.
Atualmente, esta casa tem como proprietários Pedro Sampaio e sua mulher, Dona Isabel de Ibérico Nogueira. O casal adquiriu o imóvel já quase em ruína, reconstruiu-o, mantendo o cariz rural original e preservando sem alterações o seu exterior em alvenaria de pedra. O estilo rústico do interior foi modernizado, utilizando a madeira, tanto na estrutura, como nos revestimentos.
No decurso da reabilitação da Casa do Passal foram encontradas, integradas nas paredes ou por vezes já soltas, numerosas pedras trabalhadas, ora em forma de colunatas, ora gravadas com inscrições e desenhos de jogos, revelando vestígios da importante estação Romana que, a seu tempo, esteve estabelecida em Santar.
O mais importante destes vestígios ali encontrados é uma escultura representativa de Janus, figura proeminente da antiga mitologia romana.
Os proprietários quiseram proporcionar a visão desta curiosa peça de arqueologia a quem visita Santar, pelo que a mesma pode ser avistada pelo lado de fora da casa através da janela situada ao lado direito da porta de entrada principal da casa.
A Casa do Miradouro foi mandada edificar por Duarte de Mello de Souza Telles de Menezes Pais do Amaral, na segunda metade do Séc. XIX, tendo a primeira apólice de seguro a data do ano de 1860.
O seu gosto pessoal pela arquitetura e pelos edifícios vanguardistas da época leva-o a concretizar este projeto em 4 anos. Para a execução da obra, vende o património que possui em terras de Penalva do Castelo e que lhe coube por herança da sua Casa Mãe, atual Casa dos Condes de Santar e Magalhães.
Este fidalgo era filho de José de Mello Pais do Amaral e de D. Maria das Dores Souza e Menezes, avós do primeiro Conde de Santar, família com quem mantem a mais estreita e afetuosa relação.
Portador das grandes mudanças do seu tempo, frequenta o curso de Direito na Universidade de Coimbra. Dedica-se durante toda a sua vida ao estudo da genealogia das famílias nobres portuguesas. Exímio e moderno agricultor, gere a sua casa agrícola de perto, sempre muito atento ao desenvolvimento e novas tecnologias. Aliás, em 1888, os vinhos da sua casa agrícola recebem, em Berlim, pela mão da Associação Central de Geografia Comercial, o segundo prémio na Exposição Portuguesa de Vinhos.
Pai extremoso de duas mulheres, D. Dulce Eduarda de Mello e D. Alda Branca de Mello, assume as duas filhas solteiro. Será com elas que compartilha a sua vida, na Casa do Miradouro, até 1921, ano da sua morte.
D. Dulce Eduarda de Mello e D. Alda Branca de Mello continuam a obra de seu pai até 1937, data em que D. Alda casa com Mário Augusto de Matos.
Mário Augusto de Matos (originário do distrito da Guarda), em Santar abandona totalmente a ideia de fazer o curso de direito e dedica-se ao desenvolvimento agrícola da Casa do Miradouro. Replanta os cerca de 30 hectares de vinha pertencentes à Casa, constrói poços, muros e minas, reformulando totalmente a sua produção agrícola. Em plena Segunda Guerra Mundial, consegue garantir salário a 40 trabalhadores diários, ajudando desta forma a aliviar o difícil e penoso momento que Portugal e a Europa atravessavam.
O casamento de Mário Augusto de Matos com D. Alda termina em 1968 pela morte desta, não existindo filhos deste relacionamento.
Em 1970, Mário Augusto de Matos casa com D. Rosa Branca Simões Pereira. Deste casamento nasceram duas filhas, Alexandrina e Alda Dulce de Matos, atuais proprietárias da Casa do Miradouro de Santar.
Em 2018, a Casa do Miradouro deu lugar a uma Unidade de Alojamento Local, onde também, num dos corpos da Casa, reside a família.
O chafariz da Carranca é um exemplar revivalista, inspirado nos exemplares coetâneos do século XVIII, mandado fazer pelo visconde de Taveiro, por legado de seu tio Pedro Paulo José de Melo, conde de Santar e Magalhães em 1942. Em meia laranja, apresenta-se tripartido na conceção estética tradicional ao gosto das elites beirãs: brasão de armas da Casa de Santar, cartela com inscrição e bocarra com goteira em bronze, de onde jorra a água para uma bacia desnivelada. Os princípios estéticos seguem os mesmos da Fonte dos Cavalos, datada de 1790, localizada nos jardins da Casa de Santar.
Inicialmente a granítica parede emoldura estava revestida por aparelho caiado a branco, mas que posteriormente se optou pela nudez do granito, deixando de realçar com mais vigor o aparelho acinzentado onde sobressaem as pirâmides recortadas com almofadados e fogaréus.
A fonte, colocada estrategicamente em frente à porta nobre da Casa de Santar, faz com que o eixo viário se interligue com acalmia do terreno sobranceiro, como de um todo se trata-se, fundindo-se os espaços públicos e privados para deleite dos transeuntes e, simultaneamente, enriquecendo a fachada da nobre casa de Santar.
O Chafariz da Casa das Fidalgas integra o património de acompanhamento ao conjunto histórico da vila de Santar, localizado em terreiro da referida Casa, hoje designado Largo da Torre.
A sua construção é o modelo para os outros dois exemplares existentes em Santar, ambos construídos pelos senhores da Casa dos Condes de Santar e Magalhães.
O seu estado de conservação é bastante bom, continuando a população a abastecer-se da sua água fresca, que corre durante todo o ano.
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