Fernando Caruncho
Arquiteto de paisagens

 

Nascido em Espanha, o paisagista Fernando Caruncho é uma referência mundial. Profundamente marcado pela paisagem andaluza da sua infância, Caruncho, num processo de criação interno, irá integrar essas memórias sensoriais com o mundo greco-romano que descobriu enquanto estudante de filosofia.

A intemporalidade dos clássicos, a beleza criada pela proporção e pela racionalidade marcam a sua obra que sofreu forte influência de muitos jardins formais, nomeadamente dos de Córdova e de Granada, dos de Vaux-le Vicomte (Paris), dos do palácio Piti em Florença e dos jardins Zen de Ryoan – Ji em Kyoto.

Fernando Caruncho

O jardineiro como ele se intitula, é hoje um dos maiores nomes do paisagismo mundial, e hoje Santarense de coração.
Arquiteto paisagista

A obra deste paisagista é marcada por três elementos essenciais, a geometria, a luz e a água.

Sobre a geometria - talvez o primeiro meio racional de expressar conhecimento e de relacionar o homem com o transcendente – escreveu Fernando Caruncho: “O jardineiro, como o velejador ou o construtor, sempre teve que saber de geometria, porque sem esta não conseguiria medir o espaço em que desenha os seus sonhos.“

Por essa razão, a criação de uma grelha, como elemento estruturante no desenho dos seus jardins, é fundamental “não como elemento para limitar ou conter, mas como base de partida para iniciar a conversa entre o artista e o espaço” tendo como preocupação central proporção, escala e volume.

Quanto à água - seguramente influenciado pela tradição muçulmana tão presente nos jardins mouros da sua Andaluzia natal - esta desempenha nos seus jardins um papel fulcral, tanto do ponto de vista simbólico, estético e sensorial como funcional.

O terceiro elemento, a luz, é fundamental, porque, para ele, desenhar um jardim é controlar a luz e, com isso, «alterar a perceção do espaço». As formas geométricas que concebe acabam por ser «recetáculos para a luz».

Fernando entendeu o ADN da região e com a sua intuição estética e afetiva acordou definitivamente a natureza adormecida do lugar, realçando toda a sua beleza intrínseca.

Para o projeto Santar Vila jardim era necessário encontrar o artista que entendesse o ADN da região e que, subtilmente, com a genialidade que lhe é própria, trabalhasse com a natureza criando a obra de arte para no final devolvê-la à natureza.

A marca de Fernando Caruncho, como referido anteriormente, nasce sempre baseada em princípios atemporais, nos elementos naturais e formas geométricas, transportando o espectador para um mundo de serenidade, harmonia e meditação, onde cada elemento formal realça a natureza adormecida do lugar. A beleza das suas composições tem em si o dom do mágico como manifestação da criação, da genialidade da mão que é conduzida, que se liberta do instrumento, mas persegue a realização. 

Nas suas maquetes, a obra extravasa os jardins em que atua, preocupando-se com a coerência do lugar, com o respeito pela sua essência e contexto civilizacional. Reduz ao mínimo o artifício, a favor da valorização e do realce das dinâmicas existentes, latentes, mas atuais, que acorda suavemente. Ao requalificar uma paisagem - como no caso de Santar Vila Jardim, que é numa vila rural - o seu trabalho de tornar percetível a paisagem através de processos de significação é determinante no renascer de uma nova dinâmica que reforçará a identidade cultural, mas num contexto atual, em movimento.

Fernando Caruncho foi vencedor do SGD LIFETIME ACHIEVEMENT AWARD, em 2017, pela Society of Gardens Designers.

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A construção da maquete - que acaba por ser, ela própria, uma peça de arte - é um exercício fundamental para este arquiteto de paisagens que nela, pode antever, e ajustar os reflexos, o equilíbrio estético, o sombreamento, os pontos de água e a ligação ao edificado.

Para o caso de Santar, foi construída uma maquete elíptica de 4,20 metros por 2,44 à escala 1/250. Como em trabalhos anteriores, a maquete não se restringe aos jardins onde Caruncho irá intervir. Abrange toda a vila e a paisagem vinhateira - transmissora da força cultural antrópica do lugar - que a circunda.

Como interventor atento e respeitador do pré-existente, Fernando Caruncho utilizou a elipse por esta forma estar presente nos dois elementos estruturantes dos jardins da Casa de Santar, o tanque e o lago, duas peças barrocas do século XVIII.